A Vulnerabilidade Social e a Vulnerabilidade Educacional: evasão escolar e baixos índices de aprendizagem dos estudantes Ensino Fundamental
Margarida Teixeira de Castro¹
Maria José Costa dos Santos²
Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO
Verifica-se no Brasil, nas últimas décadas, altos índices de evasão escolar em todos os níveis de ensino, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC). Presencia-se na educação formal o desinteresse dos estudantes pela permanência no ambiente escolar, ocasionando baixos índices de aprendizagem quando trata-se dos conteúdos formais apresentados.
Enquanto a maioria dos estudos aponta como fatores para o aumento da evasão e baixa aprendizagem, a desigualdade de acesso a recursos básicos como material didático, internet, transporte, dificuldades para conciliar os estudos com as demandas econômicas e estrutura precária da escola entre outros, esse estudo aponta para outra direção, a vulnerabilidade social.
Sabe-se que, em sua maioria, os alunos da escola pública são oriundos de famílias com problemas sociais e de relacionamento diversos, o que leva a associar essa baixa aprendizagem ao contexto de vulnerabilidade social em que estão inseridos. Entende-se que a falta de recursos, o acesso limitado a serviços básicos e a exposição a condições familiares e socioeconômicas desfavoráveis podem criar barreiras significativas para o acesso e permanência na escola e como consequência o insucesso na aprendizagem.
Buscou-se na revisão da literatura os elementos que sustentam a ideia de que as situações de vulnerabilidade social vivenciadas pelas crianças, interferem em seu processo cognitivo, impedindo o desenvolvimento adequado de sua aprendizagem e conduzindo-os à situação de vulnerabilidade educacional.
Vygotsky (2002) conceitua a internalização dos conhecimentos como uma reconstrução de fatos apreendidos externamente, no meio em que se vive, como um processo que envolve uma série de transformações. Segundo Pain (1991), o fracasso na aprendizagem pode ser atribuído a duas ordens de causas que podem se sobrepor: às causas externas (a estrutura familiar e individual do sujeito com dificuldades na aprendizagem) e as internas, devido à estrutura familiar e individual.
A sociedade atual tem vivenciado uma avalanche de problemas geradores de vulnerabilidade social, que interfere fortemente no contexto escolar, causando desinteresse e entraves na aprendizagem, perpetuando o analfabetismo.
Segundo Silva (2007), é grande o número de crianças que ingressam, anualmente, nas escolas da rede pública de todo o país, advindas de comunidades em situação de vulnerabilidade social, com histórias de vida que, geralmente, mostram a vivência de pobreza extrema, violência física e sexual, negligência, maus-tratos, abandono doméstico e outras situações que colocam as crianças em situação de risco que acarreta muitas dificuldades de aprendizagem.
Segundo uma pesquisa realizada por Ferreira e Marturano (2002, p. 40), as crianças com problemas de comportamento sofrem mais agressão física por parte dos pais; seu relacionamento com os pais é descrito mais frequentemente como distante ou envolto em conflitos, e elas recebem mais suspensão na escola. Isso torna evidente o quanto a vulnerabilidade na qual as crianças e adolescentes estão expostas no ambiente familiar, social e comunitário refletem no contexto escolar, uma vez que o aluno não pode dissociar, pois faz parte da vivência em que se insere o ser humano, em processo de construção.
MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho, apresentamos a vulnerabilidade social, à luz de uma revisão sistemática da literatura, como um dos fatores que contribuem com a ocorrência de dificuldades de aprendizagem, bloqueio do desenvolvimento cognitivo, evasão escolar, baixos índices de aprendizagem e pelo persistente problema do analfabetismo. A metodologia utilizada nesta pesquisa é de natureza exploratória e descritiva, fundamentada em pesquisa bibliográfica, recorrendo à consulta e análise de obras científicas, bem como a artigos e outras publicações que tratam do tema em estudo, com o objetivo de refletir e coletar informações acerca da temática
RESULTADOS A pesquisa bibliográfica mostrou que as causas das dificuldades no aprendizado são várias e podem resultar de questões emocionais, como uma separação dramática dos pais, a morte de um familiar muito próximo e, até mesmo, o nascimento de um novo irmão. Essas situações ‘sugam’ a energia da criança e impedem que ela concentre seu foco em qualquer outra coisa. “Ela fica preocupada com o assunto ou fantasiando para não entrar em contato com a realidade. E o conteúdo escolar é a realidade” Bossa (2001, p. 82).
Por essa revisão da literatura, pertinente ao tema aqui apresentado, constatou-se que o analfabetismo persistente está intrinsecamente ligado à vulnerabilidade social. Indivíduos que vivem em situações precárias têm maior probabilidade de não receberem uma educação adequada devido a uma variedade de fatores, entre eles está o que mais impacta no desempenho escolar, a falta de incentivo para frequentar a escola associado às pressões socioeconômicas que os forçam a abandonar a educação formal. O analfabetismo, por sua vez, perpetua o ciclo da pobreza, limitando as oportunidades de emprego e a participação plena na sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo mostrou que a abordagem de questões relacionadas à vulnerabilidade social é essencial para enfrentar os desafios da evasão escolar como, baixos índices de aprendizagem e analfabetismo.
A partir do levantamento bibliográfico aqui apresentado, concluímos que um dos grandes desafios apresentados aos docentes da atualidade, é exercer a docência diante de tantas desigualdades e situações de extrema pobreza em que se encontram os alunos da escola pública. Muitas crianças que se encontram em situações de vulnerabilidade, trazem para a escola as consequências da realidade vivenciada no contexto familiar, não conhecida pelo professor que, por isso, tece-lhe fortes críticas, diante da sua turma, levando-o a criar repulsa pela escola e tornando-o mais fragilizado e vulnerável.
PALAVRAS-CHAVE: Vulnerabilidade social. Evasão escolar. Baixa aprendizagem
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Universidade Federal do Ceará (UFC) pelo apoio no desenvolvimento desta pesquisa, e a Prefeitura Municipal de Fortaleza (SME), pela oportunidade de participação no Mestrado Profissional.
REFERÊNCIAS
BOSSA, Nadia. Fracasso Escolar: um Olhar Psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2002.
FERREIRA, M.C.T.; MARTURANO, E.M. Ambiente familiar e os problemas do comportamento apresentados por crianças com baixo desempenho escolar. Psicologia: Reflexão e Critica, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 35-44, 2002.
PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1991.
SILVA, A.V. Vulnerabilidade Social e suas Consequências: O Contexto Educacional da Juventude na Região Metropolitana de Natal. In: Encontro de Ciências Sociais do Norte Nordeste. Maceió: 2007.
VYGOTSKY, L. S. Interação entre aprendizado e desenvolvimento. In: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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